Palavras costuradas – moda X arte

2004. São Paulo Fashion Week. Jum Nakao apresenta sua coleção “A Costura do Invisível”. Final do desfile. Todas as modelos entram na passarela e, repentinamente, começam a rasgar as roupas, que foram confeccionadas em papel vegetal. A plateia, boquiaberta, se divide entre o choque e a admiração.

À época, Jum comentou, em entrevista para o jornal O Globo, que a proposta era tocar “na essência da moda através da reação de roupa inatingível. O objetivo não era ter uma escultura linda. Para nós a arte se realiza na cabeça das pessoas. Escolhemos o século XIX porque foi o momento de maior elaboração do vestuário. Em vez de seda e linho, optamos por algo inédito e ligado ao efêmero, o papel, poético, frágil, e que pode se desfazer a qualquer momento, mostrando a linha tênue entre o que existe e vai deixar de existir.”

Reverberando até hoje, o desfile-performance criado por Jum expôs as possíveis e tênues fronteiras existentes entre moda e arte. Fronteiras, hoje, cada vez mais fluidas. Moda pode ser arte? Arte pode ser moda?

“Nos anos 60 e 70, moda e arte foram muito mais interligadas do que hoje….Venho de uma época em que teatro, moda e artes plásticas formavam um movimento só.”

Nelson Leirner, artista plástico. 2002

“Arte e moda são coisas diferentes, o que não impede que elas dialoguem e cruzem suas fronteiras. A moda não precisa se dizer arte para ser boa. Precisa apenas ser uma boa moda.

Mauricio Ianês, artista plástico. 2007

“Quando penso em cinema, penso em personagem, em gente, penso essencialmente no corpo, em relações de intimidade. E moda é essencialmente isso. O jeito que uma pessoa se veste e como ela se apresenta é definitivo. O cinema poderia ser mais irreverente, mais surpreendente, e às vezes, mais glamouroso. E sinto que a moda pode aprender com a emoção e a sensorialidade do cinema.”

Karim Aïnouz, cineasta. 2007

“A moda é negócio, não é trabalho de arte.”

Dudu Bertholini, estilista. 2008

“Eu adoro a ideia de uma arte que possa ser vestida.”

Damien Hirst, artista plástico. 2008


“…a moda é um processo industrial, que cria produtos que você vai poder usar e carregar consigo. A arte pode ser qualquer coisa, não tem limites. Ela pode, inclusive, criar algo que você usará, mas não necessariamente.”

Hussein Chalayan, estilista. 2008

“Se moda é arte é uma discussão impossível. Em alguns momentos, as fronteiras estão tão expandidas que é difícil delimitar… Não acho que moda seja arte, mas classificar é cair numa cilada. Qual moda é arte? Os dois universos têm fins diferentes e podem usar práticas diferentes ou que se encontram.”

Denise Pollini, artista plástica. 2012

“O verdadeiro autor-criador não fica preso a amarras mercadológicas…Desfiles como os de Alexander McQueen eram performances artísticas, happenings. Isso é moda e arte.”

Tarcísio D’Almeida, professor. 2012

“Há estilistas que criam peças que contêm a provocação da arte contemporânea, que são desafiadoras. Mas é um nicho, porque eles em geral também fazem boa parte da coleção para vender.”

Patricia Sant’Anna, consultora. 2012

“Artes visuais são a única forma de expressão da criatividade que não se propõe a ser uma ferramenta de marketing ou ter funcionalidade como fundamento. Por isso, sempre acreditei que a moda se aproxima mais do design do que da arte, porque há o aspecto funcional da roupa que nenhum estilista pode abrir mão.”

Silvia Venturini Fendi, diretora criativa. 2018

* Palavras Costuradas é uma série de posts que propõe criar um diálogo sobre a moda, e as diversas camadas deste universo, por meio de uma coletânea de frases compiladas nas primeiras décadas do século 21. Cada frase traz a data de sua publicação para que possam ser observadas em seu tempo e espaço.

*imagem abertura |desfile performance A Costura do Invisível, Jum Nakao

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