Poiret volta à cena

A semana de moda de Paris, que acontece no início de março, é o cenário escolhido para marcar a volta de uma das mais lendárias grifes francesas. Com um desfile programado para o dia 4, Paul Poiret deve retornar à cena da moda em grande estilo.

Quem está por trás do resgate desta fashion house histórica é o grupo sul-coreano Shinsegae, que, além de sua própria label, distribui mais de 30 luxury brands na Coreia do Sul. Para dar conta da missão, a empresa recrutou a tarimbada Anne Chapelle, responsável pelo sucesso de marcas como Ann Demeulemeester, e Yiqing Yin, premiada jovem designer que já colaborou com Cartier, Guerlain e Hermès e tem sua própria grife de alta costura.

O criador que aboliu o espartilho

Um dos desenhos de George LePape para os trajes de Paul Poiret, 1912

O relançamento agita o mundo da moda e essa euforia se explica pelo fato de Paul Poiret ter sido um dos principais criadores franceses do início do século 20, quebrando tabus e revolucionando a estética da moda feminina.

Depois de trabalhar para Doucet e Charles Worth, ele cria sua Maison em 1903 e a partir de então decreta o fim de espartilhos e anáguas, dando liberdade de movimento ao corpo das mulheres. Seus trajes eram inspirados em uma estética neoclássica, com drapeados e linhas retas, e influenciados pelo orientalismo que dominou as artes ocidentais nas décadas de 10 e 20.

Homem culto, Poiret buscou elementos em outras culturas para realizar suas criações: turbantes, túnicas que se assemelhavam aos trajes gregos, mantôs que lembravam caftans e cores fortes do folclore russo.

Além do corte e costura

Graças à sua imaginação (e talvez a um apurado senso de negócio), Poiret construiu um estilo de vida que enfatizava suas atividades como estilista e que expandiria os domínios da couture pura e simples. Com isso, conferiu um novo perfil à profissão. Seu trabalho abriu espaço para novos criadores – como Madeleine Vionnet e Coco Chanel e deixou um legado inestimável que influencia criadores até hoje.

Paul e Denise Poiret fantasiados na festa Milésima Segunda Noite, 1911

Poiret fez de sua mulher Denise (foto em destaque acima)  a sua principal modelo para seus vestidos tubulares e exóticos. Escreveu livros que divulgavam seu trabalho e estética. Criou um garden club, chamado L’Oasis, onde manequins e o beau monde circulavam e que serviu de cenário para festas fabulosas como a Milésima Segunda Noite, em 1911, quando 300 convidados participaram com fantasias orientais. Abriu o Atelier Martine, um estúdio de artes decorativas. Foi o primeiro couturier a criar seu próprio perfume , Rosine.

Regressando a Paris em 1914 ‒ após viagens à Alemanha, Rússia e Estados Unidos para apresentar sua moda  ‒, o estilista convenceu seus colegas da necessidade de se ter um sindicato com o objetivo de proteger as criações. Foi  seu primeiro presidente.

Depois da Primeira Guerra Mundial, a exuberância e o luxo de Poiret já não faziam mais tanto sentido. O estilo de Coco Chanel, a quem Poiret se referia como a inventora da “pobreza do luxo”, estava em sintonia com as necessidades e desejos das mulheres da época. Endividado, vendeu sua empresa em 1925 e sobreviveu fazendo figurinos para filmes e pequenos trabalhos para a loja Printemps. Por fim, mudou-se para o sul da França, vivendo de maneira reclusa até sua morte em 1944.

Resgatar um legado excepcional

Em entrevista ao site The Business of Fashion, Anne Chapelle comenta que relançar Poiret, que ficou fora do circuito de moda durante um século praticamente, será como ler um livro para as novas gerações. A história, que é única, promete ajudar a engajar a audiência. Não será preciso inventar nada…apenas contar e tornar relevante toda a força e beleza que a marca carrega.

Yiqing Yin, por sua vez,  declarou ao portal Fashion Network que deseja “fazer da Poiret uma marca que narre histórias de encontros e emoções, o território de um novo tipo de luxo contemporâneo, reconhecido pelo diálogo com o seu tempo. O coração do meu projeto apresenta uma filosofia sensível das roupas e cortes, uma extensão ideal do trabalho de Paul Poiret que, no início do século XX, libertou os corpos e as almas das mulheres.”

Em tempos tão duros como os atuais, o potencial onírico de Poiret pode surpreender. A conferir em breve!

 

 

 

 

 

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