loja Zara

Completamente fashion, quase totalmente fast

Há pouco mais de dez anos muitos diriam que seria uma loucura romper o tradicional ciclo produtivo da indústria do vestuário. Afinal, seria mesmo possível trabalhar com um timing de produção mais curto entre a tendência vista na passarela e a peça de roupa pendurada na loja, à disposição do consumidor?

Os grandes grupos do fast fashion estão aí para mostrar que não apenas foi possível como é esta a dinâmica que move o mercado global de moda atualmente: tendências chegam às lojas quase que simultaneamente às passarelas e mini-coleções são lançadas ao longo da temporada com preços ultracompetitivos.

Estudo recente do Euromonitor aponta que este modelo de negócio domina a indústria mundial do vestuário. Vendas e receita continuam crescendo graças à crise financeira (já que o consumidor tem menos dinheiro no bolso e busca preço menor) e à expansão das principais redes em novos mercados, basicamente.

site H&M
H&M prevê crescimento de 6% no volume de negócios

Em comunicado do último dia 15, o grupo H&M informou que deve fechar 2016 com um aumento de cerca de 6% em seu volume de negócios (índice modesto se comparado ao de anos anteriores) e mais 427 novas lojas. Por sua vez, Inditex anunciou crescimento de 11% em receita de venda líquida nos primeiros nove meses de 2016. As estimativas e resultados dos dois maiores grupos mundiais do fast fashion indicam que tudo vai bem e sob controle, obrigado. Contudo, alguns sinais do mercado sugerem que talvez tenha chegado o momento de refletir e revisar este modelo.

Newton e a moda

Assim como na física, onde para toda ação há uma reação, marcas locais vem investindo em iniciativas para fazer frente à dinâmica do fast fashion, e ao mesmo tempo atender ao desejo de compra de seus clientes. É o caso do conceito see now, buy now que algumas fashion houses, como Michael Kors, já colocaram em ação. Ou seja, você vê na passarela e compra online ou offline imediatamente.

Análises realizadas nos Estados Unidos e Europa apontam que o apelo da roupa trendy, barata e descartável parece não ser mais tão atrativo para um dos públicos estratégicos dos grandes grupos do fast fashion, os Millennials. Em especial nos mercados mais desenvolvidos.

Consumidores começam a buscar outros atributos quando se trata de comprar a próxima peça que vão colocar no armário: roupas que possam durar mais de uma estação, que tenham qualidade e design apurado, ou mesmo peças vintage garimpadas nos brechós. E não só. Entram na lista de preferências itens produzidos por marcas locais, mais exclusivos e alinhados à estória de cada um e que, por isso mesmo, ajudam a construir a expressão de suas identidades.

campanha who made my clothes
Fashion Revolution pergunta: quem fez minhas roupas?

O pano de fundo que impulsiona este novo sinal de consumo faz parte de um cenário em que a questão ambiental, alinhada ao conceito do tripé da sustentabilidade, é um vetor importante, entre outros. Os impactos das mudanças climáticas, que diariamente dão um alô, e temas como desigualdade social e econômica têm sensibilizado, cada vez mais, consumidores trend-setters, hoje atentos às iniciativas de governos e ONGs como a Fashion Revolution – e sua campanha “Who made my clothes?”.

Levantamento realizado com Millennials norte-americanos também pelo Euromonitor aponta que o interesse em adquirir roupas que sejam eco-friendly, produzidas de maneira sustentável, fabricadas com materiais orgânicos ou reciclados tem crescido.

Claro que o fast fashion ainda tem muito fôlego e gás para se manter. Assim como estão atentos às tendências de moda das ruas e passarelas, já sintonizaram suas antenas para os novos hábitos do consumidor. Um bom exemplo é a nova label da Zara, Join Life, “criada para uma mulher que deseja um futuro sustentável”. A pergunta que fica é: será que estamos diante de apenas mais uma nova tendência ou será o início de uma real mudança na dinâmica da indústria da moda? O que você acha?

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