Palavras costuradas – autênticos ou colonizados?

Existe ou não uma identidade brasileira na moda produzida no Brasil?

Bem, essa é uma discussão que vai e volta. E nunca se chega a uma conclusão, porque sempre há a turma que defende que sim e a outra banda que defende que não.

Neste século 21, houve um período em que esse debate esteve mais quente. Foi quando a cena brasileira da moda ficou em maior evidência durante os anos 2000, momento em que o Brasil surfava uma boa onda e estava, na gringa, superbem na fita.

Com os incentivos da Apex ─ agência governamental de promoção de negócios nacionais no exterior ─ sustentando o pano de fundo, era comum encontrar jornalistas estrangeiros na primeira fila dos desfiles da SPFW, a maior semana de moda do país, ou marcas brasileiras nas principais feiras internacionais, apresentando algo que poderia ser chamado de brazilian lifestyle.

Enfim, a boa onda passou, o burburinho diminuiu e o debate, tal como o famoso “gigante adormecido”, talvez esteja esperando encontrar algo ou alguém que o acorde.

Essa coisa de brasilidade é meio chata, meio esgotada. Sou um brasileiro que faz roupas. É óbvio que isso vai estar impresso em minhas criações.

Fause Haten, estilista. 2000

Não acho que exista uma moda brasileira e sim a mão brasileira de alguns estilistas que estão fazendo um excelente trabalho. A moda é universal.”

Glória Coelho, estilista. 2001

O estilo brasileiro é ótimo. Está realmente despontando por aqui. Os jeans de cintura bem baixa, lançados agora, vêm do Brasil. Meus amigos da Califórnia dizem: Oh, nós temos o brazilian fit.

Tommy Hilfiger, estilista. 2002

A brasilidade do meu trabalho existe apenas pelo fato de eu ter nascido aqui. Tudo o que produzo já vem com a característica de ser o trabalho de um homem, judeu, descendente de poloneses e brasileiros, sem precisar que eu busque expressar isso ou aquilo.”

Alexandre Herchcovitch, estilista. 2006

A moda brasileira perde quando tenta repetir o que acontece em Paris ou Nova York….A maioria dos designers brasileiros pensa mais no estilo francês de vestir do que no gosto local.

Patricia Fields, stylist e figurinista. 2006

Damos um sentido diferente para as coisas. Temos uma sensualidade, uma leveza, uma ginga. Isso atrai.”

Francisco Costa, estilista. 2008

“…para a moda, a ‘identidade brasileira’ virou um problema do marketing, não mais da cultura.”

Alcino Leite Neto, jornalista. 2008

Ainda é difícil convencer estrangeiros de que desenvolvemos coleções completas e não somos apenas sambistas de biquínis.”

Pitty Taliani, estilista. 2011

Tenho a teoria de que existe moda no Brasil e moda brasileira. Moda no Brasil é tudo de moda que você usa no país, que pode ser, inclusive, o mesmo que está se vestindo em outros países. São as tendências mundias, influências francesas, americanas, escandinavas, o que for. Já a moda brasileira é aquela que bebe na própria fonte, usa padrões estéticos locais, faz autorreferências.

João Braga, professor. 2017

“Fiz o que sempre fazia quando não tinha como investir em mim, que era ver novelas. Delas saem boa parte do que a classe média quer consumir, é uma questão brasileira. Não é fácil deixar velhos hábitos, mas os estilistas precisam olhar para o país e parar de ir à Europa para satisfazer o próprio ego e copiar o que ninguém aqui quer usar.”

Isaac Silva, estilista. 2018

* Palavras Costuradas é uma série de posts que propõe criar um diálogo sobre a moda, e as diversas camadas deste universo, por meio de uma coletânea de frases compiladas nas primeiras décadas do século 21. Cada frase traz a data de sua publicação para que possam ser observadas em seu tempo e espaço.

*imagem abertura | foto de C Cagnin no Pexels

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