Toda época tem seu caldo cultural incorporado em cores, texturas, adornos, roupas.

Os antigos romanos usavam faixas sobre os ombros em suas túnicas e togas para indicar condição social e profissão. Faixas mais largas, por exemplo, eram exclusivas dos membros do Senado. Já durante o reinado de Carlos I, na Espanha do século 16, vestidos muito decotados saíram de cena em função da rigorosa etiqueta da corte.

No século 18, os códigos do vestir passaram pelo impacto da Revolução Francesa, permitindo que o corpo ficasse mais livre por baixo das vestes. Mas, assim como as premissas do movimento, logo foram abandonados. A vida segue e a Revolução Industrial, com máquinas movidas a vapor e teares automatizados, permite uma profusão de saias extremamente volumosas, graças à farta oferta de tecidos, marcadas por cinturas finas espremidas por espartilhos.

Nada foi como antes no século 20. Duas guerras mundiais, conflitos localizados, inovações tecnológicas. E esses cem anos se traduziram em shapes e estilos diversos. Hoje, na era dos consutivistas – consumidores + ativistas –, o ecossistema da moda se vê colocado diante de muitas reflexões: neutralizar padrões culturais que levam ao preconceito, tornar o sistema de produção menos poluente, sustentar uma cadeia produtiva que garanta maior equidade. Bem-vindo, século 21.

“A alta costura foi criada para a companhar uma arte de viver que não existe mais. Vivemos a época de Bill Gates, do jeans e da Nike.”

Pierre Bergé, empresário. 2002

“…a cópia já não é mais um assunto dominante, porque ela é feita por tanta gente, em todo o mundo, que não sabemos mais quem copiou quem…a cópia é hoje um esporte internacional.”

Marie Rucki, educadora. 2008

“A moda está desorientada atualmente, as pessoas não sabem o que fazer, falta uma grande linha condutora.”

Wanda Ferragamo, empresária. 2008

“Acredito que o verdadeiro luxo é a despretensão… [as pessoas] Querem peças ricas sim, mas de história.”

Martha Medeiros, estilista. 2011

“Estamos vivendo um momento em que não faz sentido ficarmos bitolados aos catálogos e ao exercício clássico da moda, que é o desfile. É preciso buscar novas plataformas.”

Oskar Metsavaht, empresário. 2011

“A cópia pode ser um ponto de partida para a inovação. A moda sempre trabalhou a ideia do ‘sampler’. E talvez a moda tenha mais intimidade para viver nesse mundo de ‘sampler’ do que outras artes, que procuram o inédito, algo meio impossível hoje em dia.”

Patricia Sant’Anna, consultora. 2012

“Moda vai muito além da roupa. É comportamento e retrato de uma época.”

Lilian Pacce, jornalista. 2016

“A partir do momento que as roupas passaram a ser consideradas produtos culturais, a percepção sobre o papel das marcas mudou. Hoje a moda não pode ser encarada como um produto, mas como reflexo de comportamento.”

Enrico Cietta, economista. 2017

“Moda tem a ver com o cotidiano, e o cotidiano é o palco político de nossas liberdades.”

Miuccia Prada, designer. 2017

“Atravessamos um tempo de transformações: o mundo fica mais interligado e a as fronteiras se diluem. Buscamos maior leveza e menor rigidez: idades, etnias, gêneros, estilos.”

Sueli Pereira, executiva. 2017

“O Brasil está atrasado em moda ética e ainda acredita que sustentabilidade significa algo rústico e artesanal.”

Fernanda Simon, ativista. 2017

“Mas, o que é ser feminina? Eu tenho para mim que é poder definir a si mesma como quiser. Eu ofereço um ponto de vista, mas é a mulher quem decide o que usar, então acho que é nosso dever deixá-la de bem consigo mesma, porque a moda também tem o papel de protegê-la de suas inseguranças.”

Maria Grazia Chiuri, designer. 2018

“É muito fácil incorrer no erro de ir atrás de inspiração do passado ou tentar adivinhar o futuro. Temos de tentar entender os buracos do nosso tempo.”

Ronaldo Fraga, estilista. 2018

“Mas, se pensarmos no significado da moda, de representar uma época, é a indústria que está atrasada em não tentar inserir as possibilidades da tecnologia real na criação das roupas.”

Kunihiko Morinaga, designer. 2018

“Patriarcado é um problema que afeta todas as relações. Assim como a sororidade, ele não diz respeito só às mulheres, porque é uma questão de humanidade. A moda não costuma falar disso porque é narcisista. Nosso trabalho não é mais impor uma silhueta, mas sobre cuidar das pessoas, dar opções a elas.”

Maria Grazia Chiuri, designer. 2020

*Palavras Costuradas é uma série de posts que propõe criar um diálogo sobre a moda, e as diversas camadas deste universo, por meio de uma coletânea de frases compiladas nas primeiras décadas do século 21. Cada frase traz a data de sua publicação para que possam ser observadas em seu tempo e espaço.

*imagem abertura | speak em pexels